segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Perco, lentamente, o amor à realidade presente. Vivo um passado doloroso que não é, demorando um futuro antecipado que me escapa.
Sou uma projecção do eu e uma antecipação de mim.
Choro os felizes momentos que outros julgam que vivo, sentido já a saudosa dor de os ter perdido.
Se julgam que sou feliz, enganam-se. Esta brisa leve que passeia lá fora é já o pesaroso tempo a roubar momentos à vida. E eu sei isto! E o saber-me passando é a tortura mais dolorosamente lenta a que estou sujeita.

Que tédio de não saber ser!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Qats

Talvez te não tenha dito ainda, pura comodidade minha, que não seremos felizes nunca. Talvez te não tenha dito ainda que não passaremos de estátuas esculpidas pelo desgaste da vida. Seremos somente eu e tu, como sempre fomos, fugindo paradas do tempo célere que nos engole. Será culpa nossa? Seremos nós a negar-nos à vida? Ou seremos simplesmente nós a fugirmos à responsabilidade de sermos felizes?
Dói, dói daquela forma que é cruel, porque dói por dentro, dói onde não chegamos... Queria chegar a ti, queria arrancar-te essa dor do peito, queria prostrá-la ante mim e matá-la por ti.
Falhámos a vida... E falhámo-la tão cedo... Nem tempo tivemos ainda para tropeçar e estamos já imóveis no chão. Terá o tempo chegado até nós cedo de mais? Ou teremos nós apressado o tempo?
Mas falhámos juntas, perdemos juntas, sofremos juntas e, um dia, erguer-nos-emos juntas. Não te faço promessas, amiga minha, senão a de te ter sempre junto a mim, como uma irmã. Porque a minha dor se alimenta da tua, jamais vou deixar que te voltem a fazer sofrer!
Muitas circunstâncias nos impediram, impedem e impedirão de ser felizes, mas nunca ninguém nos impedirá de sonhar. Sonha portanto essa felicidade que é tua por direito, sonha-a e leva-me nesse sonho... Dormindo viveremos a vida até mais não, dormindo gastaremos a imaginação em horas fúteis, inúteis à vida, mas indispensáveis a nós.